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Estilo de vida: 10 vantagens de viver numa vila/aldeia no centro de Portugal

“Então, a menina vive por cá?” Respondo que sim, e recebo um olhar com um misto de admiração e condescendência. “Isto é sempre assim tão calmo?”

Estamos no inverno, são oito da noite e a vila parece desabitada. Pontualmente ouve-se uma voz na distância, alguém que ainda está a beber um copo no café, ou que regressa a casa.

“Sim, é calmo. Pelo menos por enquanto. No verão, é um pouco diferente.”

E podíamos ficar por aqui. Mas continuo e explico que é exactamente por ser tão calmo, que é um lugar bom para se viver. 

Começamos a lista das 10 vantagens por aí:

1. É mesmo assim, muito calmo. Mas sabem que mais? Eu adoro.

Talvez seja estranha, com uma pitadinha de anti-social, mas não existe sensação melhor do que sair do trabalho seja a que horas for, e não apanhar filas intermináveis de trânsito. Já para não falar naquele calor e fedor humano típico do metro em hora de ponta. Por aqui temos estradas miseráveis, é verdade, e alguns condutores que fazem mais curvas do que as que já existem, mas ainda assim, tolera-se melhor.

Talvez seja mesmo feitio, mas não sinto falta do movimento. Gosto de tratar as cidades como atracções que só visito de vez em quando, por períodos muito limitados de tempo. Há muitas coisas boas a acontecer por lá, em termos criativos e culturais, mas ainda assim, acredito que o futuro mais sustentável e saudável seja por aqui.

Ou talvez seja apenas uma questão de perspectiva, o que para uns parece uma pasmaceira, para outros é um refúgio que cura.

Há que saber observar e sentir que se passa mais – muito mais do que imaginamos.
[Não posso deixar de sublinhar que para profissionais qualificados que não possam trabalhar remotamente, a oferta de emprego é muito limitada. Nesse aspecto, a “calmaria” é uma grande desvantagem. Mas para alguém com o privilégio de poder escolher, esta é uma opção mais que viável.]

2. Tão calmo, que é mais seguro.

Óbvio, não é? Basta atentarem nos mais corajosos que ainda deixam as chaves na porta. Ou se esquecem delas no carro, e ninguém repara. Por aqui queixamo-nos que nos roubaram as plantinhas ou as flores. As esmolas de uma capela, uma casa, muito pontualmente, e um velhote ou outro é burlado numa aldeia isolada. Por aqui, a verdade é que nunca me senti verdadeiramente insegura. 

3. Respira-se melhor.

Já tivemos mais árvores, é verdade. Muitas foram levadas pelos incêndios de 15 de Outubro de 2017, mas ainda continuamos a respirar melhor por aqui. Menos gente iguala menos filas de trânsito, menos industria… Menos de tudo o que é mau. E de bom, acrescentam vocês. Pois bem, já falaremos mais sobre esta questão adiante.

4. Come-se e bebe-se local.

Grande parte das frutas e dos vegetais à venda nos supermercados e mercearias são importados, mas se formos aos mercados locais, conseguimos produtos locais. Mas a maior riqueza e privilégio é morar ao pé de vizinhos com hortas, que logo nos fazem chegar os seus excedentes, muitas vezes sem pedir nada em troco. Ainda melhor? Ter a possibilidade de ter o nosso próprio pedacinho de terreno com os nossos mimos. Aqui o ouro está na possibilidade de escolha.

5. Comunidade.

E vocês  perguntam, então mas não eras anti-social? Não me interpretem mal, não sou amiga de toda a gente por aqui. Aliás, amigos no verdadeiro sentido da palavra contam-se pelos dedos de uma mão. Mas costumo dizer, de forma carinhosa, que somos todos uma família enorme que se ama odiar, que quando é necessário, se une para o bem comum. Ninguém é deixado a passar necessidades. Poderia haver mais união, parceria e cooperação, é bem verdade. Mas acredito que um dia chegaremos lá.

6. Já vos disse que se respira melhor?

Disse-vos que falaria mais sobre isto, então aqui vai. Agora, no sentido figurado. Sabem aqueles dias “não”? Em que temos que fugir para escapar ao mundo humano, nem que seja durante uns minutos? Pois bem, se estiver na minha aldeia, basta sair de casa, andar uns cinco minutos a pé e mergulho na serra, onde sou inundada pela natureza plena. No máximo, cruzo-me com alguém que ande a tratar da terra. Escolho um lugar, sento-me e reinicio. Se queremos cuidar de nós, do nosso eu interior, são minutos de paz fundamentais. Não fomos “desenhados” para tantos ecrãs, tanta artificialidade. São imprescindíveis para trabalhar e para viver, é verdade, mas temos que conseguir balancear as nossas vidas com o oposto.

7. Temos acesso à internet, televisão e todas essas modernices.

Inacreditável, não é? Não o facto de termos acesso a tudo isto, mas ainda existirem pessoas a pensarem que não. Infelizmente, devem haver algumas aldeias perdidas no interior mais profundo de Portugal que não tenham estas comodidades, mas nós por aqui, temos. Ás vezes a qualidade do serviço é bastante medíocre, mas vai melhorando. (Deixem comentário abaixo e corrijam-me, caso vivam no concelho de Arganil e não tenham estes serviços, sim?)

8. As obras de arte mais bonitas e arrebatadoras da natureza fazem parte do quotidiano.

Aquelas manhãs em que o mar prateado inunda a serra: as nuvens cobrem os vales e transformam os cumes das montanhas em ilhas solarengas.

As manhãs geladas, em que a paisagem se pinta de branco. A tinta não é neve, porque é muito raro cair tão baixa, mas geada. Aqui a magia acontece quando os raios de sol tocam os solos gelados e eles começam a “fumegar”.

O universo visto da montanha. Conseguimos desenhar as constelações e navegar na via láctea mais facilmente. É que por aqui, por sermos tão poucos, não brilhamos tanto. Literalmente, facto que nos permite ver melhor os céus estrelados, e contar estrelas cadentes.

9. Cascatas, rios, ribeiras, piscinas naturais.

É. O título explica-se a ele próprio. Tudo isto perto de casa, e praticamente exclusivo, durante a maioria dos meses.

É isso! Mantenham-se por aí, enquanto nós desfrutamos. Mas o nosso objectivo não é ser egoístas. É partilhar estes tesouros naturais, sempre com a consciência de que podemos atrair público menos desejável, que os acaba por estragar. A realidade, é que desse tipo de visitantes já temos, mas também temos um batalhão de pessoas que cuidam destes lugares e os preservam. Que os amam e celebram.

10. O que nos traz à última vantagem desta lista: essas pessoas-luz e projectos de preservação estão a aumentar, por aqui.

Para melhor exemplificar este ponto, espreitem o projecto Wildlings. É composto por pessoal que ama viver no interior, que o celebra e quer atrair ainda mais gente apaixonada para aqui. Mais consciência, mais sustentabilidade… mais amor pela natureza.

Ponto extra:

O meu irmão vive em Lisboa, e já teve que me pedir para ir à Segurança Social por ele. Porque aqui, raramente há filas. (tirando o SNS, que é problemático em todo o país.)


Ok, e agora vocês questionam: então mas se o objectivo deste artigo é atrair mais pessoas, a maioria das vantagens desaparece.

O que é bem verdade, mas sabem que mais? Sejamos realistas. A economia local precisa de um bocadinho mais de população. E a tendência acentuada é infelizmente, a contrária: a da desertificação. Duvido que conseguiremos atrair pessoas para se fixarem por aqui, mas certamente que aguçaremos a curiosidade para nos visitarem e experienciarem um pouco deste estilo de vida.

Se tivermos sorte, um ou dois malucos contrariam o exôdo rural, e atrevem-se a voltar às raízes.

Eu e a minha família fizemos isso há uns anos atrás. E sim, há alturas em que questionamos a nossa escolha. Mas ainda não nos arrependemos.

Coja Coimbra Arganil - 10 vantagens de viver numa vila/aldeia
Coja, a Princesa do Alva vestida de inverno

Coja é uma pequena vila do interior, situada no concelho de Arganil, distrito de Coimbra. Fica a 60 minutos da cidade de Coimbra e de Viseu, a 30 minutos da aldeia histórica de Piódão, e de muitas mais maravilhas que se escondem na Serra do Açor.

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  1. Post comment

    Ana Carolina Carvalho says:

    Somos malucas, mas felizes ❤️

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